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quinta-feira, dezembro 29, 2005



Sabores e odores, sensações e transgressões.



- Conta-me uma estória. - Pediu ela enquanto recuperava o fôlego depois dos corpos se terem saciado em aventuras muito para além da pele e dos orgasmos.
- Tu conheces a estória. – Disse ele enquanto passeava os dedos pelo ventre dela que ondulava devagar, depois de ter sido todas as mulheres que lhe apetecera ser.

Conheço, pensou ela, demorando as carícias que adoçavam a pele dele, por cima do vermelho como estradas finas de unhas…

Conheço o teu imaginário, que é o meu. Seríamos corpos e fantasias.

Ela é a minha amiga como amante, tu és o meu amante como amigo. E sei que sonhas com a outra de mim, com a sua pele na minha, quatro mãos de unhas pintadas entrelaçadas, dois corpos redondos e mornos, unidos em aromas iguais, duas bocas de mulher coladas num espelho paralelo.

Duas de mim. Três de nós. O número perfeito.


domingo, dezembro 25, 2005



Fantasias de Natal


Que sabem os outros de cada um de nós?


Ninguém sabe que és linda e que eu te desejo. Desejo-te como namoro um quadro de Dali, reproduzido num livro colorido, desejo-te como seduzo o Boris Vian quando releio a Espuma dos Dias em tradução duvidável, desejo-te como quando escrevo cartas, que nunca mandarei, para o José Saramago, dizendo-lhe como me apaixonei pelas suas mãos brancas e pequenas e me apaixonei por todas as mulheres que ele inventou e que são sempre eu.

És linda e eu desejo-te. Mas não sei amar uma mulher como aprendi a amar os homens. Não conheço o teu corpo.
Conheço o meu e imagino que és o meu espelho.
Possuis a ternura das coxas macias, redondas e doces, em lençóis perfumados.
Acaricias as mamas cheias e quentes nos dias de tesão e de lua cheia.
Afagas o rosto, os lábios, os olhos com gestos suaves ao espelho onde nos vês.
Tocas a melodia certa, quando te masturbas, como pianista virtuosa.

És linda e eu desejo-te.
Porque és a outra metade de mim. Como se tu e eu fossemos Sereias. Mulheres, metades, incompletas, plenas, peregrinas do prazer.

Não sei amar uma mulher como aprendi a amar os homens.
Mas és linda, e eu desejo-te.


quinta-feira, dezembro 22, 2005



Puzzle




em jogos de palavras
sonhamos os arco íris apenas azuis
que guardamos em cálices cristalinos
com as lágrimas, as estrelas e as flores.




Fotografia de Eolo Perfido


terça-feira, dezembro 20, 2005



Intervalo no Levemente Erótico. Porque Sim.


Tristeza

Não gosto de escrever sobre a Tristeza.

Há sentimentos que só deviam ser permitidos uma vez por ano.
Como o Natal. Um dia por ano para um sentimento, chega.

Todos os outros dias seriam nossos.

Eu escolhia a Tristeza para celebrar num só dia.

Mas teria de ser um dia comprido, porque há várias formas de celebrar a Tristeza.
Há várias Tristezas.

Uma delas é a Real. A que nos preenche o corpo como uma doença. Dessa, tive notícia quando me morreu o meu Pai. Dessa nunca nos curamos.

Outra Tristeza é a Passageira. A que vem com a maré-cheia ou com o por do sol. Tratamos dela como uma gripe, tomamos uns chás verdes de poesia e música e deixamos que ela nos invada suavemente. Essa é minha companheira de mágoas.

Há outra Tristeza. A Criativa. Esta surge com um dia de chuva em que brilha o Sol. Abraça-nos em bebedeiras de azul e faz com que pintemos um quadro ou com que dancemos ao luar ou então mando-nos escrever um poema com o título “arco-íris”.Desta tristeza sou íntima. Divertimo-nos imenso as duas.

Depois há a Outra. A Tristeza só Minha. Dessa não vos darei conta. Mas também não deixarei que ela dê conta de mim…

Ahhh. Eu sabia. Nunca conseguirei escrever um texto sobre a Tristeza.


Foto de Viktor Ivanovski


sexta-feira, dezembro 16, 2005



O Prazer


o teu prazer repousa no meu corpo
e espera pelas tardes de calma

o teu prazer não tem pressa
e aguarda o meu sorriso

o teu prazer repousa na minha alma
na doçura do meu ventre
na seda dos meus lábios
na surpresa dos teus dias.


O meu prazer é o teu
e os meus orgasmos,
esses,
ofereço-tos como prendas de natal.
Felizes.


domingo, dezembro 11, 2005



O Corpo e as Máscaras



Intimidade

Dizes-me: não te amo.
Mas de cada vez que me beijas gritas em silêncio o prazer que me dás.

Dizes-me: o amor é efémero.
Mas passeias no meu corpo como se eu fosse eterna.

Digo-te: ofereci-me a ti vestida de boneca
Mas despiste-me.
E nua, encontraste uma mulher.


Fotografia de Zbigniew Reszka


quarta-feira, dezembro 07, 2005



Pontes de desejo


São enormes e belas as pontes do desejo

Estou entre duas margens
Sei de onde parti,
nunca sei onde chegarei

Gosto de atravessar uma ponte
Fecho os olhos e sinto-me num mundo de sonho.

Hoje entraste no meu sonho.
Eu tinha partido há pouco tempo numa viagem estranha, confusa, cheia de vozes e pessoas que passavam por mim tão depressa que nem me viam.
Tentava atravessar a ponte para chegar à outra margem e de repente já não era a ponte, nem o rio, nem as luzes do crepúsculo, nem o cheiro da cidade.

Agora eras tu que entravas no meu sonho e no meu quarto e me beijavas em silêncio.

Com uma carícia no meu rosto apagaste o ruído que me assustava.

Com um abraço doce embrulhaste-me no teu perfume de homem.

Agora já não havia ruas, nem pessoas, nem cidades nas margens da ponte, nem cores fortes que me feriam os olhos.

Agora era o meu corpo nu que se transformava na ponte do teu desejo.

Agora era o teu olhar que me desenhava em abraços e beijos que já não eram meus nem teus.
Eram nossos.

Agora era o teu corpo nu no meu, e a tua pele era o meu prazer e o meu sorriso era o teu gozo.

Agora apagavam-se as margens.
Apenas no meu caminho, a ponte onde fomos desejo, onde fomos prazer, onde fomos silêncio e gritos sufocados.

Agora tu e eu éramos a ponte, onde conseguimos parar o tempo.

E desapareceram as margens.


sábado, dezembro 03, 2005



Em silêncio (hoje...)






Nas noites de segredos
Acaricio os recantos secretos do meu corpo
Nomeio–os enquanto os meus dedos navegam:
seios, ventre, coxas, sexo
E partilho os meus gemidos com o silêncio da noite

sufoco o grito depois do orgasmo
sufoco o grito porque não me quero ouvir
sufoco o urro do prazer que me ofereço


guardo a explosão dos espasmos
para o dia em que estarei viva contigo
hoje sou uma estátua de mármore.

Toca-me!

A lisura da pele das estátuas
é igual à violência da cor do meu desejo.