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sexta-feira, novembro 04, 2005



De tarde


Naquele dia levaste-me a almoçar. Como se eu tivesse necessidade de comer, como se tu tivesses fome de peixe ou carne, como se eu precisasse que me dessem de almoço.

Sem saberes sequer o meu nome adivinhaste que não almoço. Repugna-me o cheiro das cozinhas, assusta-me o barulho de talheres, afastam-me os rebuliços de gente esfomeada por pratos de bifes e batatas fritas.
Sem saberes sequer o meu nome, levaste-me a um restaurante à beira mar. Vazio. Todas as mesas impecavelmente postas não para se sujarem com comida, apenas para eu ver, para nos verem.

Sentámo-nos. Sem saberes sequer o meu nome escolheste um prato com sabor a limão. Doce, como eu gosto. Limão, o aroma que apaga todos os outros aromas passados.

Tinhas-me pedido antes, mesmo sem saberes o meu nome:
- Não uses perfume nem batom.
- (Não usei. .. Conheço bem o meu cheiro para não gostar de o mascarar. Naquele dia eu cheirava a terra molhada, sedenta ainda, e tinha nos olhos o desejo da maresia que adivinhava por entre os vidros do restaurante. )

Deste-me o lugar em frente à janela:
- Para veres o mar.

Levantaste-te da mesa por uns momentos. Depois, passaste por trás de mim e acariciaste a minha nuca, levantando o meu cabelo. Não soubeste, mas eu sei, que nesse momento as minhas coxas tremeram e o meu sexo palpitou, húmido, feito maresia e chuva ainda por cumprir.

Levantei-me também. Mostrei-me. Os empregados de mesa eram jovens e belos, como são sempre os das estórias de dias em que se cumprem desejos de cama. Senti os seus olhares no meu corpo, nas pernas, na boca nos ombros. Desejei ser mais bonita, como quando se deseja provocar um homem na rua que nunca se verá jamais.
Gostei ainda mais do teu olhar sabedor. Sem saberes sequer o meu nome, soubeste que estes homens invisíveis me desejavam e te invejavam.

Conversámos. Tentámos cumprir o ritual do almoço.

Mais tarde, levar-me-ias para a tua cama e provarias o meu cheiro. Dir-me-ias:
- És linda assim com tesão.

Mais tarde eu responder-te-ei:
- Ter tesão é estar viva por dentro e por fora.

Mais tarde, soubeste o meu nome. Gritaste-o, quando te fiz vir.