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segunda-feira, novembro 28, 2005



Dias de luz


Nos dias em que os fios de chuva se entrelaçam com os raios de sol, apetece-me enredar-te na teia que vamos construindo com os nossos corpos e os nossos silêncios feitos de suspiros e sorrisos.

Num dia desses esperaste por mim na tua casa que tinhas aquecido no máximo um dia antes. Uma casa à minha espera. Quente, porque tu sabes que trago nos olhos os climas dos trópicos e no corpo o desejo do calor que me faz florir. Quente, porque sabes que o frio me mata o sorriso, me congela a pele, me seca a alma.
A tua casa à minha espera. Quente, tão quente para que eu pudesse passear nua pelas divisões enquanto te conto estórias e te faço sorrir.

Num dia desses ofereceste-me uma prenda embrulhada em papel de seda cor de rosa e eu ofereci-te a minha pele desembrulhada para que lhe encontrasses a cor.

Num dia desses, fizemos amor no teu sofá vermelho de veludo. Despir-nos-íamos mais tarde, quando desembrulhássemos as prendas. No sofá, apenas te beijei longamente, senti o teu sexo a desejar a minha boca, a desejar o meu calor. E depois de saborear longamente o teu tesão que crescia em carícias macias, sentei-me ao teu colo e entraste em mim.

Pertencemo-nos nesse momento. Simplesmente. Como se ambos tivéssemos regressado a casa.




Pintura de Susy Gomèz



quinta-feira, novembro 24, 2005



Intervalo de Mim


erótica
o erotismo é a arte dos corpos em encaixe
o erotismo é a arte do amor desenhado numa tela
com sabor a pele e línguas.

o erotismo desenha-se sem lápis
nem caneta
nem sequer precisa de teclado

o erotismo pinta-se suavemente
com um pincel macio no teu corpo
em arabescos de descoberta

o erotismo fotografa-se cuidadosamente
no meu corpo
sem lentes nem técnicas de luz
surge em imagens no teu olhar

o erotismo é o meu sorriso feliz
aberto no corpo que te ofereço
é o meu cabelo cor de fogo
que beija o teu corpo em chamas
é um suspiro em espiral
que te faz desejar a próxima vez

Que desenharmos os nossos corpos na luz.


terça-feira, novembro 22, 2005



Just a Kiss, que rima com Bliss


Fotografia de H. Cartier Bresson
Desenhe-se um beijo. Fotografe-se um beijo. Descreva-se um beijo.
Deseje-se um beijo. Na boca. Um beijo de olhos fechados.

Imagine-se um beijo. Um beijo na boca. Um beijo que começa no olhar, passeia-se pelos lábios, brinca com a língua e mergulha no início do abismo...

Um beijo. Na boca. Na boca um beijo. Mergulho, sufoco, encho os pulmões de ar.
Fecho os olhos e beijo-te na boca.
Abro a alma e beijas-me na boca.
Um beijo, só um beijo. Na minha boca. Toda.

Oiço-te dentro do mar. Dentro da música que me mostras. Porque te dá tesão. E por isso ma ofereces uma e outra vez.
Um beijo. Na boca. Ao som da música que me dedicas.
Porque me beijarás o corpo todo daqui a nada.
E eu sei que o farás porque já sinto a tua língua dentro das minhas coxas em surpresa.
Porque cansaremos os corpos, a pele, os sexos juntos, em ondas de línguas e dedos e beijos, mas daqui a nada...

Agora só um beijo na boca. Na minha. Na tua.


segunda-feira, novembro 21, 2005



Sofisticação


Preparar-me para ir ao teu encontro, vestida apenas com duas gotas do teu perfume…


Foto de Helmut Newton



quarta-feira, novembro 16, 2005



Poema Implícito


Imagina um corpo banhado de lua desejoso do dia em que se torna pleno.

Toca um corpo salgado de mar ou lágrimas sedento da maré-cheia.

Acaricia um corpo feito de seda,
que traz com os búzios carícias sonhadas sussurrando baixinho gemendo na onda que beija a areia.

Mergulha na concha devoradora que te acolhe, sente o meu corpo em chamas ao teu toque suave.

E eu… seguro o teu mastro a pino;
sou a tua vela que se enrola e desenrola transformada em língua da minha cor do desejo.

No silêncio dos mar de espuma.

Nos lençóis alvos ainda oiço-me no meu silêncio, iço-me no teu corpo em auge.

Navego-te, montando a tua aventura
Fecho os meus olhos de espanto
Sabe-me a boca à tua aventura por outros mares
Desejo o meu final no teu, em fugaz e efémera união.

E recebo o teu espanto no meu peito, sou o teu orgasmo, a tua espuma...
os lençóis são o meu oceano
coloridos agora de memórias de paixão.


domingo, novembro 13, 2005



Dias de silêncio




dias
dias de
dias de silêncio
fotografia de nanã sousa dias


quinta-feira, novembro 10, 2005



Viagem na ponte para o arco-íris


Todas as viagens têm um destino. Nesse dia não sabia qual o teu, nem o meu.

Sentei-me na viagem que não teria estória, não tivesse eu vestido a minha mini-saia preta, não fora o teu carro confortável, não fosse o sol ameaçado a espaços com nuvens negras que desabavam sobre a nossa viagem, não fora o desejo no teu olhar, não fora a carícia na cintura que me fizeras minutos antes.

Esta viagem teria um destino. Nunca sabemos o nosso quando embarcamos na aventura dos corpos que se adivinham, nem das vontades que não se sonham.

Conduzes devagar, como eu gosto quando tiro o relógio.
Eu falo muito, como tu gostas quando usas os teus silêncios.

Conduzes com uma mão, enquanto a outra redescobre as minhas coxas, falas do péssimo tempo, enquanto eu levanto a mini saia que só vesti para que ma despisses, tocas-me ao de leve no sexo, enquanto eu te digo que este é o meu tempo preferido, metes determinadamente a mão dentro da minha lingerie sofisticada em que não repararás, enquanto eu fecho os olhos e oiço-me respirar ao som da chuva.

Conduzes devagar e eu deixo-me conduzir, enquanto acaricias o meu sexo húmido, sem palavras, ou com todas as palavras que me dizes, quando eu uso os meus silêncios.

Pedes-me que me venha ali, pedes-me para parar o carro, pedes-me…
Peço-te que não pares, nem o carro, nem a carícia, nem a chuva, nem a tua mão que escorrega dentro de mim, nem os raios de sol que teimam em romper, nem o tesão que me dás.

Dos nossos orgasmos, ficarão mais tarde, as manchas nos lençóis da tua cama .

Desta viagem, ficou no meu olhar o arco-íris quando finalmente abri os olhos.

Chegara ao destino.


terça-feira, novembro 08, 2005



no corredor de verdes pinhos


Gosto do cheiro da tua casa. Cheira a pinheiro novo e sabe a memórias antigas.

A tua casa cheira a ti. Cheira a desejo anunciado. Gosto de passear por ela, deixando a minha voz nas paredes, e o meu riso nas janelas rasgadas, enquanto vou espalhando as minhas peças de roupa pelo chão, uma a uma. Gosto de colocar a última peça que tiro em cima da tua cómoda. Gosto de saber que mais tarde te lembrarás da forma como coloquei as minhas cuecas de renda preta ao pé do teu relógio.

Tempo e sexo. Juntos.

Amanhã, quando eu não estiver na tua casa, lembrar-te-ás como nos despimos e abandonámos o tempo.

Gosto do cheiro da tua casa. Tanto como tu gostas do aroma do meu prazer.
Gosto que me abras a tua cama metodicamente. Tanto como tu gostas que eu grite de prazer quando me saboreias o sexo demoradamente.
Gosto que me abras as coxas e esperes gulosamente que eu me venha as vezes que me apetecer. Tanto como eu gosto de ser a tua puta em dias sem relógios.

Gosto do cheiro da tua casa. Tanto como tu gostas de gozar dentro do meu corpo.

Um dia destes cozinho para ti. Na tua casa. Para que a minha sombra se cole ao chão, para que o meu cheiro se misture no teu e para que possamos foder em cima da mesa da cozinha.


Mais tarde, já não serei a tua puta. Mas essa é outra estória.


sexta-feira, novembro 04, 2005



De tarde


Naquele dia levaste-me a almoçar. Como se eu tivesse necessidade de comer, como se tu tivesses fome de peixe ou carne, como se eu precisasse que me dessem de almoço.

Sem saberes sequer o meu nome adivinhaste que não almoço. Repugna-me o cheiro das cozinhas, assusta-me o barulho de talheres, afastam-me os rebuliços de gente esfomeada por pratos de bifes e batatas fritas.
Sem saberes sequer o meu nome, levaste-me a um restaurante à beira mar. Vazio. Todas as mesas impecavelmente postas não para se sujarem com comida, apenas para eu ver, para nos verem.

Sentámo-nos. Sem saberes sequer o meu nome escolheste um prato com sabor a limão. Doce, como eu gosto. Limão, o aroma que apaga todos os outros aromas passados.

Tinhas-me pedido antes, mesmo sem saberes o meu nome:
- Não uses perfume nem batom.
- (Não usei. .. Conheço bem o meu cheiro para não gostar de o mascarar. Naquele dia eu cheirava a terra molhada, sedenta ainda, e tinha nos olhos o desejo da maresia que adivinhava por entre os vidros do restaurante. )

Deste-me o lugar em frente à janela:
- Para veres o mar.

Levantaste-te da mesa por uns momentos. Depois, passaste por trás de mim e acariciaste a minha nuca, levantando o meu cabelo. Não soubeste, mas eu sei, que nesse momento as minhas coxas tremeram e o meu sexo palpitou, húmido, feito maresia e chuva ainda por cumprir.

Levantei-me também. Mostrei-me. Os empregados de mesa eram jovens e belos, como são sempre os das estórias de dias em que se cumprem desejos de cama. Senti os seus olhares no meu corpo, nas pernas, na boca nos ombros. Desejei ser mais bonita, como quando se deseja provocar um homem na rua que nunca se verá jamais.
Gostei ainda mais do teu olhar sabedor. Sem saberes sequer o meu nome, soubeste que estes homens invisíveis me desejavam e te invejavam.

Conversámos. Tentámos cumprir o ritual do almoço.

Mais tarde, levar-me-ias para a tua cama e provarias o meu cheiro. Dir-me-ias:
- És linda assim com tesão.

Mais tarde eu responder-te-ei:
- Ter tesão é estar viva por dentro e por fora.

Mais tarde, soubeste o meu nome. Gritaste-o, quando te fiz vir.


terça-feira, novembro 01, 2005



Blank



Ele – Gosto do que escreves. (parece que tens clítoris nas teclas… vens-te na ponta dos dedos…)
Ela – Escrevo para me libertar de mim (mentira, é tudo mentira, escrevo por raiva, escrevo por tédio, escrevo porque te dou tesão…)
Ele – Gostava de te saber feliz. (gosto de quando explodes de prazer depois da timidez que finges…)
Ela – Saber-me feliz é perigoso. (não te atrevas a amar-me…)
Ele – Gosto de te fazer rir. (principalmente quando me sentes dentro do calor do teu colo, quando me cavalgas feita louca, macia de pele, em chamas de olhares…)



Ela – Se continuas a fazer-me rir, preenches o vazio da minha alma e se continuas a foder-me assim, ainda te arriscas a que eu me apaixone por ti. Irremediavelmente. E depois? O que faço eu do vazio em que afogo o meu silêncio?

Ele – Depois podemos conversar.

Ela – Podemos, sim. Deita-te e fecha os olhos. Eu converso contigo com a ponta dos meus dedos. Converso com a boca e língua. Mas não digo nada. Só quero que te venhas dentro de mim.



fotografia de homem da lua